quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

balance

Talvez tenha sido a solidariedade pelo medo do escuro dele, pelo pavor que ele carregava de se descobrir sozinho no meio da noite (que meio da noite é 'i' -iih), talvez tenha sido aquele fio invisível que é claro que continua ligando as pessoas depois do -parto. como se fosse cordão umbilical que mora duas quadras pra cima e pra baixo, talvez tenha sido quase crueldade egoísta mesmo. Só sei que ele nunca tinha ouvido um adeus mais bonito. De todas as coisas que viveram juntos a despedida foi sim a mais doce.

Ela nunca tinha sido tão cuidadosa, nem nas horas melhores. Teve o cuidado de diminuir o quarto, pra que ele não sentisse aquela vontade de ser acolhido pelas paredes quando fosse hora de abraço. lavou toda louça em silêncio como ele gostava que fosse e guardou na cristaleira deixando a chave exposta, pra espantar os curiosos. levou os olhos dela junto com o escuro do mundo, pra que ele pudesse encontrar sem vigia um outro querer. deixou açúcar e afeto pra uma vida inteira na dispensa por se acaso, -se precisar usa, se não precisar dispensa, amor.

Levou quantos espinhos conseguiu arrancar dele que era flor, é verdade que partiu tão leve, borboleta em pas-des-buré, que ele quase se perdeu entre a tristeza do abandono e a beleza do vôo, beleza do abandono e a tristeza do vôo, amor. Mas era tanta ternura que mesmo quando ela quis hesitar, ele sorriu, -borboleta, amor. não espantalho.

Um comentário:

Luiza Rosa disse...

Nossa, Camila!
Você estava falando sobre a minha vida??
Que coincidência cortante..
Gosto sinceramente dos teus textos.
Um beijo