quinta-feira, 7 de julho de 2011

Além dos Olhos

Empréstimo de olhos é uma coisa que eu gosto bastante de fazer. Esses dias fui emprestar os olhos de quem não enxerga e foi lindo. Era atividade de Reportagem Fotográfica e a missão era fazer um fotovideo. Ele vai ficar aqui do ladinho, junto com os outros empréstimos de olhos, quem quiser emprestado nem precisa pedir.
Tá bem simples, editado no Movie Maker, sonoras gravadas no celular. O próximo passo é fazer de novo com audiodescrição, pra todo mundo poder ver.
Por enquanto ficou assim:

D 007

No sábado meu corpo quase ficou triste de saudade, mas meus olhos se alegraram bastante. Quem não viu o espetáculo do Estúdio de Dança Beatriz de Almeida, que vista os binóculos que eu trouxe e leia minha descrição.



Um menino sapateou com o sol nos pés. Gente que era pequena, agora é grande e faz até pirueta. Voz rouca, dança com força de jazz. A grande pequena bailarina que eu sempre amei ver em cena. Bailarinas completas, lindas no palco de flor na cabeça, Rosalvas.



Entre tantas coisas lindas, meus olhos gostaram tanto de ver você quando apareceu discretamente no canto do palco.. Enxergamos o suspiro de concentração nos seus olhos antes da música te fazer flutuar. Seus pés riscando o palco, você segurando a música nas mãos, brincando com a gente nos contratempos entre os pas-des-burrés. Você abraçando o mundo com seus braços imensos, que dançar é abraçar o invisível. Você varrendo os males do mundo pra bem longe com seus piqués incansáveis, a quinta fechadinha. Olhando pro alto pra enxergar o balance com esses seus olhos grandes. Você sozinha, mas tão amparada, enchendo o palco inteiro de você mesma. Você enchendo a platéia com a sua graça indizível. Tão leve, tão leve, tão doce de olhar, indelével.



Depois de flor no cabelo como as outras, os pés esticados, saltos precisos. A dona do palco. Girando em diagonal, tão rápido, tão rápido enquanto o maestro invisível sorri pra orquestra e eu também já não posso segurar meu sorriso. Eu e meus olhos satisfeitos, te olhando pela segunda vez com a sensação de que se você dançasse assim mais mil vezes, a gente estaria lá de novo porque, embora o mundo gire tão rápido quanto você marca sua cabeça agora, algumas coisas nunca mudam.