terça-feira, 25 de novembro de 2008

Tá, segundo dia de bode e eu vim aqui desabafar.
coloquei um videozinho com piada sobre-entendida, pra disfarçar tudo, brincar de esconde com sorrisinho de silêncio, que é o que eu tento fazer melhor se não encontro trilha. trilha de trilha sonora mesmo, e trilha de andar com os pés no chão, trilha de trilho, de montanha russa, trilho de tigres e trigo, trigo de mundo moinho, é.
o videozinho não deu conta, não, sensação de calcinha branca de renda P, comprié?

eu gosto de brincar de pique-esconde, amor, desde sempre, desde muito antes que você viesse eu tinha essa mania de bater a cara de olhos fechados por cinqüenta segundos infinitos e solitários, cinqüenta por causa dos dois pinguinhos de cima, trema, de quando a gente (a gente eu e eu, amor, não tô te colocando aqui dentro sem pedir licença poética, não precisa arregalar os olhos) sente frio e medo, trema, imperativo de mãos, trema de trinta e seis relevés na ponta e descanso em plié. eu gosto de trema, quase tanto quanto de esconde-esconde. daí depois de bater a cara a gente vai procurar, eu aprendi a usar bolinhas de sabão: um, dois, três o amor naquele ali! pronto, saía do esconderijo, com vergonha, sendo sombra e só, ou sem-vergonha, correndo de mim em grand-jeté: um, dois, três salve o mundo. eu acho que tô velha pra brincar, amor. não essa velhice que te derrubou da cadeira agora, velha pra rimar com galho, sabe?
da última vez não parecia esconderijo, amor, eu sei que tava escuro, que só vi de relance também, que o amor é cego, amor, e não vê os sinais de despedida porque esqueceram de ensinar adeus em braile de linha de mão, adeus, aah Deus, diz que deu, diz que dá, e se Deus negar? porque eu não entendo a sua língua, amor, e entendo menos ainda a ausência dela quando é dia, olha maria, viu?
e eu quero escrever breguices de amor, sem querer, mando pra onde? esconderijo ou morada você, você? tem sinal, amor?
eu tenho aqui as blusas que você deixou, sei que preciso lavar e estender com prendedores azuis, fazendo dadaísmo de suspiro no varal pra você entender enquanto voasse por aí. eu não deixaria bilhete, nem te esperaria na janela, que esperança, trema e eu sou covarde e pequena. eu faria sua comida preferida sim amor. eu sairia a noite pra te encontrar, não enxergo cruzeiro do sul e não te enxergaria, que o amor é cego, amor e eu um gravador, não te enxergaria, mas a gente se esbarrava fácil, caminho estreito o nosso, amor. mas eu não saio porque se você voltasse, amor, imagina o desencontro e trema, agrava a dor. e não lavo suas blusas amor, ainda que fosse o sinal, não amor, olfato é fato.

brincadeira pra olhos

esconde-esconde, esconde-pega, esconde-pega-esconde

sábado, 8 de novembro de 2008

aos tantos

a danada, atacando de novo.
sabe aquela? que pensando bem eu não posso ter tido sempre, mas que quando bate parece tão definitiva, que eu penso que já nasci com ela e vou morrer com ela então.
uma coisa toda minha (e cada um com as suas coisas uée!) que me faz fazer umas voltas de pensamento, viajar por mares de monotonia quase forçada, sempre dantes navegados, sabendo que pra divagação assim não existe porto,ou cais. sabendo que o pensamento vai fazer aqueela tempestade dentro de mim com as coisas pensadas até essa tempestade virar o meu barquinho. e eu quase me afogar, experimentando, com ares de primeira vez, a emergência de sempre: cada uma das mil daqui de dentro gritando histéricas (ou silenciosas) com medo de tanta água, dos raios, dos meus tubarões internos, com medo do barquinho que virou.
enquanto eu olho, de olhos tranqüilos e passivamente, pra qualquer coisa, um passarinho no fio do poste, a mulher que passa. pensando com meu jeito urgente como é que eu vou evitar o afogamento dos meus mil pedaços, de uma tripulação inteira de mim: quem sabe a maré, as ondas, minha ilha deserta.
aí de repente o pedacinho mais esperto grita
- cheguei. e a margem é de vidro, de novo.
olharzinho envergonhado de quem é por natureza muito sem-vergonha. sorrisinho sem-graça. tomara que ninguém na rua tenha notado. quase me afoguei, de novo e outra vez, num copo d'água.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

aos treze.

Foi despertado certo dia por carícias que quase faziam cócegas. Era Laura o experimentando. Segurou firme entre os dedos macios e fez alguns traços, o abandonou logo em seguida.
Ele nunca mais dormira.
Viveu por dois meses entre espasmos e suspiros, sempre mudos.
Laura desenhava corações de vez em quando. E o apertava com as mãos pequenas num pressionar tão leve, cada digital dela a marcar o corpo dele, como se fosse ferro, fogo, um pedaço dele ficando pra trás a cada encontro de dedos, papel, palma. Vestígios, e só. Vestígios e ponto.
Tremeu estático quando Laura o beijou, o levou a boca sem aviso prévio, manteve-se assim por quase dez segundos de eternidade, o abandonou logo em seguida bêbado de arrepios em cima da mesa.
Acontece que um dia Laura acordou mais sorridente, começou a escrever declarações, desenhou corações e dentro do maior escreveu 'Ronaldo'.
Ele resolveu ir embora.
Naquela noite saiu do estojo sem fazer barulho, se jogou da escrivaninha e partiu.
Pra longe,
ou ao meio.