terça-feira, 30 de setembro de 2008

desmedido

hoje antes de desabafar meu coração apertou um pouquinho.
será que é justo escrever sobre o que a gente sente?
eu adoro me confessar aqui, desabafar, tentar 'transformar tédio em melodia', soprar bolinhas de sabão mesmo, suspirar mudo quando tem vento demais.
nada contra soltar as palavras que eu guardo aqui dentro pra brincar no quintal, isso eu vou continuar fazendo sem culpa e noção do ridículo por muitos e muitos anos, já sei.
mas sabe, até isso que eu ia falar acho que quer ficar quietinho agora.
acho que contar dor é meio injusto com a própria dor, entende? às vezes ela nem quer ser toda enfeitada e floreada pra ser exibida aqui como se fosse bonita.
afinal o que é que me diferencia do picarelli, por exemplo? que 'explora a miséria humana' e coisa e tal? o que eu vim fazer aqui quando resolvi postar no blog, senão explorar misérias, e o pior, as minhas próprias?
hoje não vai dar não. hoje a danada se rebelou, não é bonita, não é instrutiva, não é lírica. é dorzinha e só.
e traz com ela um pudor todo deselegante
pra mostrar que mesmo que morra, quando morre a gente faz
um minuto de silêncio

(pra aprender a ser flor.)

domingo, 28 de setembro de 2008

toma meus olhos um pouco, pega.
põe antes do mundo, pra ver como é que fica, experimenta
aninha eles um pouquinho, pode colocar suas cortinas, se você quiser
tira essas lentes de aumento se te assustarem, veste óculos colorido.
eu não te alcanço aí do outro lado, é verdade, o mundo é cheio de vazios.
mas eu te empresto meus olhos se você quiser, toma.

domingo, 21 de setembro de 2008

'Eu louvo a Dança,
pois ela liberta as pessoas das coisas,
unindo os dispersos em comunidade.
Eu louvo a Dança
que requer muito empenho,
que fortalece a saúde, o espírito iluminado
e transmite uma alma alada.
Dança é mudança do espaço, do tempo,
do perigo contínuo de dissolver-se
e tornar-se somente cérebro, vontade ou sentimentos.
A Dança requer o homem libertado,
ondulado no equilíbrio das coisas.
Por isso eu louvo a Dança.
A Dança exige o homem todo ancorado em seu centro
para que não se torne, pelos desejos desagregados, possesso de pessoas e coisas,
e arranca-o da demonia
de viver trancado em si mesmo.
Ó homem, aprende a dançar!
Caso contrário, os anjos não saberão o que fazer contigo.' - Santo Agostinho.

sábado, 13 de setembro de 2008

{A insensatez que você fez, coração mais sem cuidado. fez chorar de dor o seu amor, um amor tão delicado. ah, por que você foi fraco assim? assim tão desalmado. ah, meu coração, quem nunca amou não merece ser amado. vai meu coração ouve a razão, usa só sinceridade. quem semeia vento, diz a razão, colhe sempre tempestade. vai, meu coração, pede perdão, perdão apaixonado. vai porque quem não pede perdão não é nunca perdoado.} Vinicius de Moraes

toca quando a gente percebe o tamanho da insensatez e da falta de cuidado, e da falta de sentido, e da falta mesmo. falta é bem ruim de sentir, pior que a saudade eu acho.

eu gosto muito mesmo das palavras e até acho que o simples engolir dois dedos de orgulho sem gelo, respirar fundo e pedir desculpa sem jeito e sem justificativas estranhas, só com a sinceridade, já tem alguma coisa de ternura. acontece que ternuras internas não conseguem ser suficientes pras pessoas mais indeléveis da nossa vida.
acho que sempre que o amor é grande demais essas pessoas merecem mais da gente. é tão engraçado e gostoso como o mundo parece tão perfeitinho dentro de um abraço, e o que que a gente anda fazendo pra deixar o mundo maior um pouquinho mais do jeito perfeitinho, do jeito que quem te faz sentir assim merece que seja?

pois é, essa ternura que é do tamanho do amor, que consegue aninhar o mundo inteiro como se fosse filhote, vai dar conta de encher as bolinhas de sabão que te procuram, com qualquer coisa tão preciosa que valha a pena.
pérolas macias que te aconchegassem sem explicação, no seu esconderijo.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

status

camilaemboava está dialética. (via Buddypoke, é claro.)

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

pousou lentamente o copo na mesa, perdeu o olhar um instante entre os carros que não passavam, não me olhou nos olhos em seguida.

quis acenar pra um conhecido qualquer, o conhecido não estava. pediria ao garçom dois dedos de coragem sem gelo, se o garçom existisse na cena. levantei pra ir ao banheiro. te olhava de longe e de tão perto que estava era como se essa distância, presente pela ausência, fosse o abismo.

suspirou, passou os dedos pelo guardanapo. ninguém gosta de anunciar o fim da primavera. olhou em volta, como quem mostra, "nenhuma flor nos meus olhos, vês?"

não via. o amor é cego e não aprendeu a ler braile nas linhas da mão.
mas o vento, maior clichê da cena, nunca assobia mentiras. e o abandono das borboletas congeladas pelo caminho era tamanho, que eu quase entendi o silêncio: flores de plástico não morrem.