sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

out!

Era uma vez, mentira. Era duas vez, três vez talvez, é.
Era tal vez ela que passava, uma daquelas mulheres que a gente jura que não ama porque a saia é pequena demais e se a gente precisa de uma saia pra se esconder debaixo quando o medo tiver gigante demais, o que é que a gente faz com essa saia de um palmo?
Era a tal vez e a mulher que passa, aquela, resolveu ficar.

Era talvez a primeira vez que ele via tão de perto uma daquelas. aparição de carne e osso. É claro que os olhos brilharam e que toda a breguice do mundo vinha agora pousar no ombro dele, fazendo carinho, falando de amor. E onde chovia antes ia fazer sol agora, e onde sofria antes ia agora fazer sentido.

Trocaram, durante três minutos e quarenta e dois segundos, tempo da música deles que não tocou e nem precisava, olhares de ternura, carícias telepáticas, juras mudas de arrepio e amor eterno.
A levitação se desfez logo no primeiro toque. Alguma coisa nela ardia demais.

Ia ser sempre lindo e mesmo quando a Amy cantasse I died a hundred times, you go back to her and I go back to blak, ia ter uma Elis pra retrucar Black is beautiful.
Mas só quando o tempo fosse bonzinho e ele deixasse de se sentir queimar sempre que encostasse nas marcas, ainda quentes, de outros braços no corpo dela, como se fossem tatuagens de abraços de ferro em boi. Quando o tempo de casulo passasse e ele aprendesse a voar, quando largasse de ser vaca, o babaca.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

quer dançar sem migo?

é que aquilo vinha dando tontura de novo e demais, tortura de novo de mais, não.
é que dói de não caber nessa quadrilha, alargador se eu não uso, Carlos maldito!
e a gente aqui de novo, no caracol. se eu te puxasse pela mão, pra redemoinhar, primeira da fila, assim ímpar, meio sem par, você ficava aí, as duas mãos ocupadas, e eu meio sem rumo, meio pela metade.
Não, Pablo, eu não sei dançar essa quadrilha. pequena demais pra um pas-des-quantoscouber.

sábado, 7 de fevereiro de 2009

quebra de contrato

Quando ela chegou balançando o cabelo em charme proposital, um garfo se jogou da mesa, vai ver foi paixão mais-que-prematura-exagerada, vai ver tinha tirado o J mesmo.

Ninguém viu quando ela sentou na mesa, hipnose, dizem. Foi sentar com ele, que esperava há três minutos e cinco goles de cerveja.
Say goodbye, dizia o roteiro. Ele era mudo, tão mudo quanto as madrugadas quando a sombra é maior que o medo, e menor que o segredo, amor.

- Um brasa salada com adicional de coragem, por favor.

E aqui não é mesa de bar, mas a breguice é infinita, garçom. Ela não viu quando ele ficou mais rosa que o comum, quando pensou sem querer no quanto ela era linda e em como ele entendia aquele guardanapo que se despedaçava com o toque das mãos dela, que aquelas mãos eram mesmo o melhor lugar do mundo, say hello. Ela não viu, era cega, talvez porque ele fosse mudo, então.

Os garçons trocaram olhares ansiosos, o adolescente emburrado da mesa ao lado já tinha socado a mesa há dois minutos e um vôo de abelha improvisado, a deixa, say hello say hello!

Mas o frio na barriga antes da queda, e ele definitivamente tinha uma queda por ela, um tombo. e o frio na barriga antes da queda congelou a cena sem aviso, e eu na esquina de cima bem pra cima, na quina da rede de insegurança, quase gritei
- corta!