quarta-feira, 17 de março de 2010

delay

O maior aprendizado que existe na vida é o de saber a hora certa de sair de cena. Se a gente fica em mais do que deve paga o preço do desprezo sem querer. Se a gente fica quando não é hora, perde o direito de mobilidade. É difícil saber mas o palco dá sinais. Quem tarda é amordaçado e amarrado com cola invisível, tem os pés colados no chão e fica, durante uma coreografia inteira, banido de dançar, olhando tudo impotente, assustado, vilipendiado, agonizando com a música que vem do palco e só é bonita pra quem canta ou pra quem ouve a pelo menos um metro e meio de distância e nenhum dos dois é o caso.
Bruno sabia de tudo isso e saiu logo, mesmo que no fundo ainda quisesse estar preso por vontade. É verdade que seu par deu a deixa, disse que a próxima música era ímpar, disse: me deixa. E antes de sentir as cócegas das amarras invisíveis, Bruno correu-a cabeça baixa, o mais rápido que pôde, quase suficiente. Não teve tempo de carregar seus olhos, aqueles infelizes grudaram no palco e estão amarrados até o final do espetáculo. E Bruno, cambaleante na coxia, não sabe se segue sem eles ou se espera pra buscá-los.