domingo, 29 de março de 2009

pausa pra um beijo

Segura o tempo aí um pouquinho, que eu preciso dar um recado.
Eu não sei se você anda ouvindo por aí, Alfredo, que eu te amo, Alfredo. Eu não sei se você tem falado com as nuvens ultimamente, nem sei se você tem lido o chão do seu quarto onde um dia eu esparramei tanto amor que deve ter ficado tatuado pra te lembrar.
Eu só sei que esse meu amor que se faz de mudo e nem é, e nem muda, eu só sei que ele hoje acordou transbordando todos os dias. E que eu vim te beijar com palavras, Alfredo, que entre os mil tipos de beijos possíveis a gente precisa escolher o beijo nosso de cada dia e hoje é domingo dia santo. Eu vim te beijar com palavras porque eu te quero bem e fico tão feliz quando você vem brincar de caber na minha vida. É que aqui é meu mundo, tem minha mãe, tem meu pai, meus irmãos, tem o sofá grande, minhas calças estranhas e eu fico boba de ver quando você se integra, como você é tão lindo aí fora no mundo e traz toda essa lindeza pra cá. Que o Tom cantou ah se ela soubesse que quando ela passa o mundo inteirinho se enche de graça e eu gostei dessa desde pequeninho
mas quando você fica, Alfredo, aí a graça é mais que graça. Meu mundo fica muito mais lindo, até minhas calças gostam de você aqui, sabe?

Eu te amo, Alfredo.

quinta-feira, 19 de março de 2009

assimétricos

Ele deitava agora, pra não dormir, duas horas e meia de insônia, duas horas e meia de procura-se uma posição, duas horas e meia de 'esse quarto ficou grande demais..'.

Ele outro sonhava agora, do outro lado de um país que não existe. e se mexia em sono agitado em sincronia com o primeiro, sem saber.

Ele um tinha sede, mas uma preguiça insuperável de se levantar do sofá.

Ele outro pegava água num surto automático e esquecia na mesa de centro, coisas daquelas que a gente faz sem querer. é que a sede não era dele, morava tão longe dali e ele nem sabia.

Ele outro descansava as mãos apoiadas nas pernas, sempre a palma virada pra cima. Ele um se punha sempre de palma pra baixo sem saber o que procurava. Era de dar quase dó quando ficava evidente que até os dedos deles se encaixavam perfeitamente no desenho das sombras quando a noite era escura demais. Deles que eram paralelos, que nem se dessem um nó no vento e soprassem com força se encontravam. Deles que o encaixe era só deles e outro não existia, deles que iam pra sempre andar meio tortos, sempre torcer um pouquinho pra caber onde não é lugar, -mas se o lugar não vem o que se há de fazer?
E era de quase dar orgulho essa melancolia, de quando a noite gritava -Alfredo! e esse sussurro pro Ricardo é que nunca chegava.
Deles sempre meio cheios de estarem sempre meio vazios, dessa elegância deles que 'um homem com uma dor é sempre mais elegante, caminha assim de lado..'