quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

érre cifrão

é sim um post clichê. e uma piadinha de bom gosto -brinco.
e as cifras demais, o episódio da conversa solo embaixo do chuveiro (se fosse poeira de estrelas ou tatuagem, mas aquela luz vermelha era difícil de sair), viraram elipse.
eu só quero dizer, dizer pouco e baixo, sabe? que apesar do meu jeito estabanado, ou sei lá o que, do meu jeito sem-jeito, que é o meu, às vezes me sinto assim com você. é que eu nunca vou desaprender a soprar bolinhas de sabão. e gosto do som dos seus passos na sala de cristais, tão digno quanto um elefante envergonhado.
só pra contar que na sua frente eu posso ser por um bom tempo (pra sempre me arrepia, fica pra outra vez), como alguém foi pro Vinicius, protegida, blasé, insolente, de arzinho meio superior, quase caricata. e transbordante de afeto, uma menina com uma flor.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

in

que só dizem sim. que não dizem, até que seja sim. assim. -sim como se fosse risco riscado que só toca um lado, A. dos braços estendidos ao longo do corpo, dos olhos cansados, do silêncio até que seja sim, até que seja assim: -mal me quer?
-sim.
quando eu te vi menina, uma dessas mulheres, quando eu te vi, menina, brincando de boneca, quando eu te vi colada com cola de cuspe numa cadeira de bar. e quando a boneca dançou em semi-paráfrase, como se fosse a única, e sacou e se jogou da sacada, quando a estátua de gelo do bar derramou uma gota, menina, eu tive vontade de pular pra fora de mim e te abraçar do avesso.

eu só queria que você me bebesse num gole só. e que dobrasse a dose pra ficar legal. e que se desdobrasse até que fosse over a dose e puuf game over. eu só queria que você me bebesse de uma vez, sem respirar.
mas você é beija-flor, menina, pra que mentir?

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

balance

Talvez tenha sido a solidariedade pelo medo do escuro dele, pelo pavor que ele carregava de se descobrir sozinho no meio da noite (que meio da noite é 'i' -iih), talvez tenha sido aquele fio invisível que é claro que continua ligando as pessoas depois do -parto. como se fosse cordão umbilical que mora duas quadras pra cima e pra baixo, talvez tenha sido quase crueldade egoísta mesmo. Só sei que ele nunca tinha ouvido um adeus mais bonito. De todas as coisas que viveram juntos a despedida foi sim a mais doce.

Ela nunca tinha sido tão cuidadosa, nem nas horas melhores. Teve o cuidado de diminuir o quarto, pra que ele não sentisse aquela vontade de ser acolhido pelas paredes quando fosse hora de abraço. lavou toda louça em silêncio como ele gostava que fosse e guardou na cristaleira deixando a chave exposta, pra espantar os curiosos. levou os olhos dela junto com o escuro do mundo, pra que ele pudesse encontrar sem vigia um outro querer. deixou açúcar e afeto pra uma vida inteira na dispensa por se acaso, -se precisar usa, se não precisar dispensa, amor.

Levou quantos espinhos conseguiu arrancar dele que era flor, é verdade que partiu tão leve, borboleta em pas-des-buré, que ele quase se perdeu entre a tristeza do abandono e a beleza do vôo, beleza do abandono e a tristeza do vôo, amor. Mas era tanta ternura que mesmo quando ela quis hesitar, ele sorriu, -borboleta, amor. não espantalho.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

do alto

Sentou na sacada trepando mesmo, como se fosse árvore.
entre o desequilíbrio e a rede de segurança, que é ali que mora o marasmo. entre a superfície de concreto trave extra-fina e a rede de insegurança, que lá que mora a pergunta.
Olhou os carros que passavam e as luzes dos postes que embora estáticas, dançavam mole nos vidros dos prédios.
Segundo ciclo vermelho-verde do semáforo mais próximo. acenderia um cigarro agora, se fumasse. derramaria uma lágrima ou outra, se chorasse.
Nó de veias e artérias, tambores, abelhas, seja lá o que fosse, que ia aumentando mais do que podia, mais do que tava escrito nas linhas daquelas mãos pequenas. o coração tem que ser do tamanho da mão fechada, disseram. daí que não cabia muita coisa ali, o alargador que ela engolira forçava as paredes, vomitaria sangue, se combinasse.
acontece que tinha estômago de touro, a vaca. digeriu.