sexta-feira, 5 de setembro de 2008

pousou lentamente o copo na mesa, perdeu o olhar um instante entre os carros que não passavam, não me olhou nos olhos em seguida.

quis acenar pra um conhecido qualquer, o conhecido não estava. pediria ao garçom dois dedos de coragem sem gelo, se o garçom existisse na cena. levantei pra ir ao banheiro. te olhava de longe e de tão perto que estava era como se essa distância, presente pela ausência, fosse o abismo.

suspirou, passou os dedos pelo guardanapo. ninguém gosta de anunciar o fim da primavera. olhou em volta, como quem mostra, "nenhuma flor nos meus olhos, vês?"

não via. o amor é cego e não aprendeu a ler braile nas linhas da mão.
mas o vento, maior clichê da cena, nunca assobia mentiras. e o abandono das borboletas congeladas pelo caminho era tamanho, que eu quase entendi o silêncio: flores de plástico não morrem.

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