quinta-feira, 19 de março de 2009

assimétricos

Ele deitava agora, pra não dormir, duas horas e meia de insônia, duas horas e meia de procura-se uma posição, duas horas e meia de 'esse quarto ficou grande demais..'.

Ele outro sonhava agora, do outro lado de um país que não existe. e se mexia em sono agitado em sincronia com o primeiro, sem saber.

Ele um tinha sede, mas uma preguiça insuperável de se levantar do sofá.

Ele outro pegava água num surto automático e esquecia na mesa de centro, coisas daquelas que a gente faz sem querer. é que a sede não era dele, morava tão longe dali e ele nem sabia.

Ele outro descansava as mãos apoiadas nas pernas, sempre a palma virada pra cima. Ele um se punha sempre de palma pra baixo sem saber o que procurava. Era de dar quase dó quando ficava evidente que até os dedos deles se encaixavam perfeitamente no desenho das sombras quando a noite era escura demais. Deles que eram paralelos, que nem se dessem um nó no vento e soprassem com força se encontravam. Deles que o encaixe era só deles e outro não existia, deles que iam pra sempre andar meio tortos, sempre torcer um pouquinho pra caber onde não é lugar, -mas se o lugar não vem o que se há de fazer?
E era de quase dar orgulho essa melancolia, de quando a noite gritava -Alfredo! e esse sussurro pro Ricardo é que nunca chegava.
Deles sempre meio cheios de estarem sempre meio vazios, dessa elegância deles que 'um homem com uma dor é sempre mais elegante, caminha assim de lado..'

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